Teologia Ascética e Mística: Do organismo da vida cristã

As três divinas pessoas, que habitam o santuário da nossa alma, comprazem-se em enriquecer de dons sobrenaturais, e comunicam-nos uma vida semelhante à sua vida, que se chama vida de graça ou vida deiforme.

  
Ora, em qualquer vida há um tríplice elemento: um princípio vital, que é, por assim dizer a fonte da vida; faculdade, que permite produzir atos vitais; atos, enfim, que são os produtos dessas faculdades e contribuem para o seu desenvolvimento. Na ordem sobrenatural, o Deus, que em nós vive, produz em nossas almas esses três elementos. a) Comunica-nos primeiro a graça habitual, que desempenha em nós o papel de princípio vital e sobrenatural (Suma Teológica I,II, q.110, a. 3), diviniza por assim dizer, a própria substância da nossa alma, tronando-a apta, posto que remotamente, para a visão beatífica e para os atos que a preparam.

  
b) Desta graça derivam as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo, que aperfeiçoam as nossas faculdades e nos dão o poder imediato de praticar atos deiformes, sobrenaturais e meritórios.
  

c) Para por em movimento estas faculdades, concede-nos graças atuais que nos iluminam a inteligência, fortificam a vontade e ajudam a praticar atos e a aumentar assim o capital de graça habitual que nos foi concedido.
  

Esta vida da graça, se bem que distinta da vida natural, não lhe é simplesmente sobreposta, senão que por completo a penetrar, transformar e divinizar. Assimila tudo quanto há de bom em nossa natureza, educação, hábitos adquiridos, aperfeiçoa e sobrenaturaliza todos estes elementos, orientando-os para o último fim, isto é, para a posse de Deus pela visão beatífica e amor que a acompanha.

  
É a esta vida sobrenatural que compete dirigir a vida natural, em virtude do princípio geral, que os seres inferiores são subordinados aos superiores. É que na verdade não pode durar e nem desenvolver-se, se não domina e não conserva sob a sua influência os atos da inteligência, das vontades e das outras faculdades, e com isso não destrói e nem diminui a natureza, antes a exalta e aperfeiçoa. Eis o que vamos mostrar, estudando sucessivamente os seus três elementos nas próximas postagens do blog de sexta-feira.
  

(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Ed. Apostolado da Imprensa - 1961 - 6ª edição)

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